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Conhecer o field e ter décadas de experiência foram fatores apontados
Conhecer o field e ter décadas de experiência foram fatores apontados

Por um instante, esqueça que Phil Hellmuth tem sérios problemas comportamentais na mesa e nem sempre se porta com as atitudes que um embaixador do jogo deveria ter. O que resta é o jogador mais bem sucedido da história da principal série de poker do planeta. Desde o primeiro título, conquistado em 1989, no Main Event, o “Poker Brat” vence na WSOP com uma facilidade impressionante.

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Tanto que, com 16 títulos conquistados, tem 6 braceletes de vantagem para seus oponentes mais próximos, Johnny Chan, Doyle Brunson e Phil Ivey. No torneio seguinte à mais recente vitória, quase levou o 17º, caindo no heads-up para Adam Friedman. Ainda assim, já são cinco mesas finais nesta edição da WSOP, liderando a dipusta de Jogador do Ano.

(Foto: PokerNews - Phil Hellmuth conquistou o título pela 16ª vez na WSOP)
(Foto: PokerNews – Phil Hellmuth conquistou o título pela 16ª vez na WSOP)

Durante a carreira, Hellmuth foi silenciando os argumentos contrários. Taxado como jogador apenas de Hold’em, ganhou braceletes em Razz, no No Limit 2-7 Lowball Draw, e ainda levou o vice no Dealer’s Choice Championship, que reúne nada menos que 20 modalidades. Não, Hellmuth não joga o aclamado GTO (Game Theory Optimal), e provavelmente não teria o mesmo sucesso se corresse o circuito de High Rollers com buy-ins cada vez maiores e fields que não chegam a três dígitos.

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Talvez, o “Poker Brat” não se sairia melhor do que um grinder de low stakes online se fizesse um teste nos softwares mais populares, onde é necessário dizer a jogada certa segundo a teoria do jogo. Mas, então, qual o diferencial do americano? O que leva um profissional que muitos consideram “nadar contra a corrente” ser tão vencedor, em múltiplas décadas, enfrentando diferentes gerações do esporte da mente e em modalidades diversas? O SuperPoker conversou com quatro craques do poker mundial que estão em Las Vegas para entender melhor o sucesso de Hellmuth. O conhecimento do field e a experiência foram alguns dos fatores apontados. Confira abaixo as opiniões de Felipe Mojave, Pedro Padilha, Renan Bruschi e Rafael Moraes.

Pedro Padilha:

São alguns diferenciais importantes. Primeiro é que ele deve jogar poker há uns 50 anos, experiência muito grande. Segundo, ele joga poker há 50 anos neste field, no field aqui dos Estados Unidos, por isso ele se destaca tanto na WSOP. Ele tem um conhecimento do field muito grande.

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Provavelmente, essa deve ser uma das coisas mais importantes para você ter sucesso nos torneios, e os fields daqui têm características muito específicas e diferentes do resto do mundo, e ele sabe muito bem explorar isso. Fora isso, tem algumas coisas como ele entendeu e aprendeu que existem jogadores muito melhores que ele tecnicamente, e se adaptou a jogar muito tight, talvez evitar alguns fields onde ele enfrenta esses jogadores, principalmente em No Limit Hold’em. Como os $100K que ele jogava pelo mundo todo e não joga mais.

Falando tecnicamente, o estilo de jogo dele é um pouco mais tight e ele naturalmente tem uma noção muito intuitiva de ICM. Ele sobrevive muito nos torneios, o que é uma coisa muito importante. Acho que esses são os principais diferenciais dele.

(Foto: PokerNews - Phil Hellmuth conquistou o título pela 16ª vez na WSOP)
(Foto: PokerNews – Criticar o comportamento de Hellmtuh é válido, mas os resultados? )
Felipe Mojave:

Acredito que o grande diferencial do PH é a adaptação ao jogo e seus oponentes, utilizando sua imagem da melhor maneira possível. Isso juntamente com seu vasto conhecimento sobre praticamente todos os jogos acaba lhe tornando um jogador muito forte. Ele entende muito de um conceito ultra importante em campeonatos que é o Tournament Life, sendo assim é capaz de jogar com maestria stacks mais curtos e manter-se na disputa evitando situações marginais de jogo, além de raramente cometer erros muito grotescos, como overplay.

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Como pessoa eu acho que ele é um bom ser humano. Diversas vezes ouvi os dealers, floors e funcionários comentarem sobre sua generosidade. Comigo sempre foi uma pessoa muito respeitosa e amiga.

Mas sua postura de jogo está longe de ser a ideal ou exemplo. Ele falta com respeito com todo mundo porque entra em tilt e acaba sempre passando dos limites. Seu ego é o maior que eu já vi. Ele precisa de aprovação constante. Acho que ele é uma pessoa infeliz e deve ter tido muitos problemas familiares. Espero que ele melhore sua atitude pois ele é sem dúvida nenhuma o maior expoente do nosso esporte e isso pega muito mal pra nossa atividade. Não acredito que isso vá efetivamente acontecer, pois está enraizado e o cara já é um veterano, mas não quero perder a minha fé que ele possa se tornar uma pessoa melhor, portanto eu torço muito para isso.

(Foto: PokerNews) Phil Hellmuth está em uma de suas melhores fases na WSOP 2021
(Foto: PokerNews) Phil Hellmuth está em uma de suas melhores fases na WSOP 2021
Renan Bruschi

Vendo de fora e também pelas mãos que vi ele jogar em transmissões e tal, dá para ver que ele não é nada fino na teoria, mas tem um diferencial que poucos tem, e eu friso muito isso para os jogadores do meu time, que é foco. E o foco não é simplesmente estar ali sem usar o celular, é o foco em cada detalhe e ação. Por exemplo, no 2-7 no Dia 2, ele prestava atenção em absolutamente tudo, desde a forma que o adversário pegava as fichas e apostava, então acho que ele tem muito essa pegada de afinar a leitura dele com essas sacadas live que ele pega, por estar extremamente focado.

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Ele consegue afinar a leitura dele, tirar muita vantagem dos outros oponentes nesse ponto, de possuir um foco extremo no que está fazendo. Extremamente imerso no momento e presente ali, repetindo, não só não usando o celular, mas quando não está jogando uma mão, atento a qualquer movimento dos adversários. Percebi muito isso nele, olhando de fora. Apesar de a parte técnica de No Limit Hold’em não ser muito boa, todos falam que em Mixed ele é muito bom. Mixed são modalidades que requerem muito disso, uma atenção gigante nas cartas queimadas, as cartas expostas, acho que ele mata muito por causa disso.

Rafael Moraes

É um pouco difícil responder essa pergunta, porque não conheço tanto ele, claro que conheço o nome há muitos anos, mas nunca joguei contra ele. Dito isso, acho que o grande diferencial dele é a experiência. Ele tem uma experiência de jogo muito grande, joga poker há 30, 40 anos, então isso deve ajudá-lo demais. Ficar tranquilo na mesa, se sentir confortável, à vontade, isso com certeza deve ajudar bastante.

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