O canadense Mike McDonald é um dos grandes nomes do poker mundial e não são poucas as razões que o colocam entre os melhores. Nos feltros online, onde ganhou fama com o nick “Timex”, ele possui quase US$ 3,2 milhões em premiações, sendo o maior prêmio os US$ 200 mil embolsados pela terceira colocação no Main Event do FTOPS, série de torneios online do finado FullTilt Poker.
Quando o assunto é torneios ao vivo, os números de Timex são ainda melhores. Mesmo sem nenhum bracelete de WSOP no currículo, ele já ultrapassou a marca de US$ 13 milhões em premiações, estando atualmente na 29ª posição da lista de mais premiados da história. Ele começou a chamar a atenção logo no começo da carreira, em 2008, quando venceu o Main Event do EPT (European Poker Tour) Dortmund com apenas 18 anos, levando quase US$ 1,4 milhão.
Além de ter técnica de sobra, ele também se destaca nos panos ao vivo por possuir uma das encaradas mais intimidadoras do poker. O olhar fixo e confiante denuncia a grande possibilidade de concentração e foco do canadense, que desde pequeno foi um prodígio e abraçou o seu lado competitivo como poucos. Recentemente, ele criou o site PokerShares, onde qualquer um pode comprar parte da ação dos maiores jogadores do mundo em grandes torneios.
Em entrevista exclusiva ao SuperPoker, Timex falou sobre sua carreira, a criação do PokerShares, a vez em que ficou preso em um banheiro no PCA (PokerStars Caribbean Adventure) e muito mais. Confira.
Você foi um dos membros do time campeão da Global Poker League. Quais foram os pontos positivos e negativos da primeira edição?
Eu absolutamente amei essa liga e estou muito feliz de ter participado. Para começar com os negativos, eu senti que estava frequentemente dando informações grátis e ensinando meus oponentes sobre como eu jogo, mas no geral acho que valeu a pena. A final da GPL foi um dos dias mais divertidos da minha carreira no poker. Na minha vida, eu sempre pratiquei esportes e o poker virou a minha competição. Jogar como um time em busca de um objetivo conjunto é tão empolgante e estar lá representando o Canadá tentando vencer apenas pelo gosto do título foi tão mais significativo do que ser obcecado com os dólares que posso ganhar ou perder em torneios de poker.
No começo do ano, você postou nas mídias sociais uma crítica de sua mãe sobre seu desempenho no PLO. Como você lida com as críticas na profissão, até da sua família?
Eu sou muito “blindado” em geral. Quando eu era criança me avançaram na escola e antes de pular um ano meus pais me levaram para um psicólogo infantil que analisou vários aspectos da minha personalidade para ver como eu se me daria bem indo para a escola com estudantes mais velhos. O ponto mais notável que ela percebeu é que, mesmo em uma idade onde as crianças buscam ou agradar ou desobecer, eu era completamente motivado internamente e raramente fazia algo pela aprovação dos professores ou dos pais e também raramente tentava seguir o padrão ou me preocupava com a opinião dos outros. Isso continuou até hoje, onde existe um número muito pequeno de pessoas para cujas opiniões eu ligo, e se minha mãe não está batendo PLO high stakes eu não poderia ligar menos para se ela pensa que eu sou bom ou não (risos).
Mesmo com os capuzes e óculos escuros que os jogadores costumam usar hoje, ainda é possível utilizar live tells. Como?
Capuzes e óculos escuros para mascarar os tells substancialmente, mas ainda existe muitas informações que não podem ser cobertas. É muito mais fácil para o cérebro humano identificar padrões do que seguir um comportamento sem padrão.No outono de 2011, eu fui coach do Pius Heinz e percebi durante a transmissão, assim como acompanhando a cobertura, o quão precisas estavam minhas leituras sobre os jogadores, ao invés de olhar para o feltro todo tempo. Eu decidi que no próximo torneio pequeno que jogasse, eu prestaria atenção em tudo que acontece na mesa. Eu fiquei em terceiro e continuei assim, premiando em quatro torneios consecutivos e percebendo o quanto eu estava perdendo, então nunca parei de fazer isso.
Como surgiu a ideia do PokerShares? Como tem sido a recepção da comunidade até agora?
Eu apenas pensei que o poker pode ir muito mais longe do que já foi. Se existem 1.000 pessoas jogando um torneio e 10.000 ou 100.000 assistindo em casa e querendo fazer parte, eu pensei que poderia dar a essas pessoas a oportunidade de ter uma parte da ação.
No Brasil, PokerShares tem uma parceria com o 4bet Team. Como essa parceria começou?
Eu conheço Thiago [Crema] há anos e sempre tive muito respeito por ele, tanto como jogador quanto como empreendedor. Ele entrou em contato com a gente lá no começo com parcerias em potencial e eu fiquei imediatamente animado,
Você ganhou um EPT com apenas 18 anos. O que mudou desde então em você?
Muita coisa! Eu era apenas uma criança naquela época. Eu passei a ficar muito mais confortável na mesa, muito mais experiente, muito mais focado, e longe do poker eu percebi que precisava viver uma vida mais balanceada ao invés de focar 110% em poker.
Você tem contato com jogadores brasileiros? Existe algum deles que você admira?
Eu sempre considerei André Akkari um grande embaixador do jogo. Sempre considerei que GM_Valter [Rafael Moraes] joga muito bem e também tenho grande respeito pelo jogo do Thiago [Crema]
Você tem planos de vir para o Brasil? Para jogar ou apenas visitar o país?
Meu sócio Veron Lammers se casou no Brasil há alguns anos. Eu fui o único norte-americano convidado (a maioria das pessoas era do Brasil ou da Holanda) e no último minuto eu percebi que precisava de um visto e acabei perdendo o casamento. Sempre quis visitar o Brasil e é um dos primeiros destinos na minha lista. Os torneios no Brasil têm crescido tanto que eu adoraria jogar alguns durante uma viagem.
Qual é o seu relacionamento com Daniel Negreanu? Ele é um de seus ídolos?
Daniel é ótimo. Eu imagino que a maioria das pessoas seguiu o ciclo oposto do que eu fiz sobre ele: a maioria das pessoas acha que eu cresci idolatrando ele e com o tempo o conheci e percebi que ele é um cara normal quando viramos amigos. Para mim, vim para o poker com uma mentalidade tão competitiva que eu assistia jogos high-stakes e criticava o jogo dele, não achava ele tão bom. Após o conhecer, percebi que ele é, de longe, o melhor embaixador do poker. Ele lida tão bem com a mídia, promove o jogo de forma incrível e ainda consegue se manter em alto nível mesmo tendo seus 40 anos e jogando pouco, o que é incrivelmente difícil de se fazer. Então eu sou uma das pessoas que passou a idolatrar ele quando fiquei mais velho. Eu sei que nunca conseguiria fazer o que ele fez, tanto nas mesas quanto fora delas.
Muitas pessoas dizem que você tem a encarada mais intimidadora do poker. O que você acha disso?
Desculpa! Eu sou apenas uma pessoa muito competitiva por natureza e acredito que estar focado ao máximo ajuda muito. Eu fiz uma auto-reflexão no Main Event da WSOP 2016 quando vi John Hesp ser eliminado e cumprimentar e abraçar os torcedores dos oponentes. Uma grande parte de mim gostaria de se divertir mais na mesa, mas eu acho que, no fim das contas, fazer os seus oponentes terem medo de você ajuda a ganhar tantos potes extras que eu não me imagino sendo um cara tão legal na mesa.
Uma vez no PCA você ficou preso no banheiro de um restaurante. Qual a sua lembrança sobre esse causo?
Ótima memória! Eu estava entre as três mesas finais do Main Event do PCA e fui ao banheiro. A maçaneta quebrou e não havia como passar por cima ou por baixo da porta, além de não ser um banheiro muito usado. Após 10 a 15 minutos, alguém entrou no banheiro e eu pedi para que abrissem a porta pelo outro. Coincidentemente, era uma dos meus melhores amigos, Pratyush Buddiga!
Existe algum título de torneio ou conquista que você ainda almeja no poker?
Na verdade, não. Minha mãe gostaria que eu ganhasse um bracelete da WSOP. Talvez eu tenha que ganhar um de PLO para ela (risos).
Quem foram suas maiores referências durante a carreira?No começo: Steve Paul-Ambrose, Aaron Coulthard, Will Ma, Mike Watson e Matt Kay tiveram grande influência no meu jogo. Mais tarde, amigos como Pratyush e Connor Drinan me ajudaram muito.
Qual você acredita ser a maior falha de jogadores de poker fora das mesas?
Gastar muito! É tão difícil construir um bankroll quando todos os seus lucros vão para festas e distrações fora das mesas. Para cada jogador bem sucedido, existem 10 ou 100 que poderiam ter feito mais se tivessem sido mais cuidadosos com seus orçamentos.