COMPARTILHAR
Bruno GT
Bruno GT

O Brasil tem grandes jogadores de poker que marcaram presença e ganharam espaço ainda nos primórdios do esporte da mente no país, quando tudo engatinhava. Muitos se firmaram e seguem em alta até hoje. Bruno Gonzalez Terra, mais conhecido como Bruno GT, é um dos jogadores da velha guarda que cabe perfeitamente nesse exemplo.

O brasiliense de 35 anos tem 11 anos de carreira, mais de US$ 2,7 milhões em ganhos no PokerStars e muita história no esporte da mente. O próprio se considera um jogador de online, mas GT sempre aparece em alguns dos principais torneios live do país. Curiosamente, o maior prêmio em todos esses anos veio recentemente, justo nos feltros ao vivo.

Bruno GT ficou em 4o lugar no Super High Roller do Casino Iguazú, em junho, mas foi o segundo maior beneficiado de um acordo feito com cinco jogadores. O brasiliense faturou US$ 111.349 e não conteve a emoção com o resultado. Um dos melhores jogadores do mundo do poker online entre 2008 e 2009, Bruno GT tem papo de sobra quando esse é o assunto.

O SuperPoker conversou com ele sobre vários temas. Ficou imperdível! Confira:

SuperPoker: o que mudou no poker de quando você estourou para hoje? Como fazer para se manter ganhador?

Bruno GT: Bom, acompanhei uma época de grande evolução, acredito que as maiores nesses quase 11 anos de profissional. O jogo evoluiu não somente na parte matemática, mas no aspecto psicológico também. Muitos softwares paralelos apareceram e com isso a precisão do jogo foi muito melhorada, o próprio nível de jogo cresceu demais. Eu particularmente joguei vários modelos de jogo, e tenho aberto mais minha cabeça para jogar em outros lugares fora do PokerStars, onde não é mais nem 20% da minha grade. Jogo mais cash games hoje em dia, e apesar de ser positivo também no PS, a política de rakeback vai me tirar de la cada vez mais, acho que um segredo pra se manter ganhador é se adaptar às mudanças e, claro, estudar o jogo.

SuperPoker: Como é a relação da sua mãe, Angelina, com o poker? Quando você começou o que ela dizia?

Bruno GT: Eu e minha mãe sempre tivemos um relacionamento muito aberto para tudo, tanto que quando decidi me dedicar totalmente ao poker, em 2006/2007, eu trabalhava durante o dia e fazia faculdade a noite, então resolvi sair do emprego e trancar a faculdade pra dedicar 100%, lembro de chegar em casa e dizer a ela: vou jogar poker online sério, tenho tirado uma grana e acho que posso conseguir mais. Ela me olhou e disse: “me resta confiar em você como sempre, com um sorriso no rosto”. Eu sou um vencedor por esses detalhes.

SuperPoker: o que você mudaria na sua trajetória no poker? Não vale dizer “Não me arrependo de nada”…

Bruno GT: Pra ser muito sincero, realmente eu não mudaria nada, pois os meus maiores ensinamentos, a melhor pessoa que venho sendo dia a dia, eu aprendi com meus erros. Olha que não foram poucos (risos)! Mas a reflexão em cima de atitudes e ações erradas é algo que eleva a alma e o espírito, trazendo a chamada sabedoria. (Fui profundo né? Risos) Mas vamos lá, acho que fui inocente demais em alguns momentos e muito malicioso em outros, demorei também a aprender a lidar com dinheiro, não que eu tenha aprendido, mas acho que melhorei bastante. Como falei, arrepender te bloqueia um pouco de tirar o ensinamento que o erro traz, evolui muito quando aprofundei esses pensamentos de forma mais clara.

SuperPoker: Conte como foi o hit em Iguazu, você considera um “ressurgimento” do Bruno GT?

Bruno GT: Ele veio numa hora inesperada mas trabalhada. De um ano pra cá, venho trabalhando nesse “ressurgimento” que não é meu modo de ver, mas entendo que muitos estão tratando assim. Tenho trabalhado não somente minha parte técnica, mas principalmente meu mindset. Eu andava trabalhando sem vontade, jogando feito um robô por 16 horas, às vezes 20, 24 horas. Sem o mínimo tesão, atolado de contas e numa pressão interna absurda. Foi quando resolvi olhar outras linhas de jogo, tais como cash games e jogos live. Resolvi também viver um pouco, curtir mais a vida e amigos, cuidar mais de mim. Tenho focado no estudo de comportamento das pessoas em lives, fields mais interessantes (níveis mais fáceis) e cash games live e online com esses detalhes. Saí da mesmice e fui procurar lugares e jogos que me tragam rentabilidade financeira e estou muito bem com minhas escolhas. Títulos são importantes sim, mas não pagam minhas contas. Sou profissional de poker. O tesão agora é claro ganhar títulos live, onde tenho me dedicado nesse último ano e os resultados vem melhorando. Esse deal histórico pra mim em Iguazú foi apenas a primeira cereja de um grande bolo.

SuperPoker: Como foi o papo com a sua mãe após a conquista em Iguazú?

Bruno GT: O engraçado é que quando eu tava chegando, tentei ligar em casa por whats pois meu celular não pegava na Argentina, mas a ligação estava horrível e não conseguimos nos falar, então liguei pro Pantufaz, que é muito amigo da minha mãe também e falei: “cara, estou chegando na FT e estou bem na parada, liga lá em casa e avisa minha mãe, fala devagar pra véia não infartar! (muitos risos)”. Depois que tudo acabou liguei pra ela na madrugada de um canto, choramos bastante, minha mãe respira poker comigo há 11 anos, sofremos juntos e vencemos juntos sempre. A gente precisava dessa grana por alguns motivos especias, que Graças a Deus aconteceu. Agora é seguir sempre na luta por melhores resultados pra gente, pois eles virão com certeza.

SuperPoker: Acha que a idade pesa para jogador de poker?

Bruno GT: Acho que por um lado, pesa um pouco sim. Eu particularmente não tenho mais o pique que eu tinha, abrir 80 torneios pra mais por dia, jogar sessions gigantescas. Claro que de vez em quando acontece, mas não é regular como já foi. Vejo que isso também faz bem, não ficar workaholic, é algo que por certo momento te faz sentir bem, mas é desgastante mentalmente, tira um pouco até do bom humor. A parte boa é a experiência, que acho que vale muito no poker atual. Você precisa ser tático e estratégico com teu lifestyle. Preparar o momento pra jogar, com vontade e até mesmo melhor concentração, são fundamentais para grandes resultados. Mesma coisa é jogar um live e não dormir pelo menos 8 horas antes, você certamente estará menos preparado dos que estão fazendo isso. Minha satisfação é sentir que meu auge ainda não chegou. (risos)

SuperPoker: Quais são os próximos passos na tua carreira?Bruno GT: Vou seguir seriamente em cash games online, algumas vezes live, e claro, torneios live. Quero um BSOP por honra, mas quero é jogar torneios grandes e rentáveis. Como disse, títulos são importantes, mas eu jogo poker por dinheiro, é minha profissão. Torneios online sempre vou jogar, mas cada vez menos. Pretendo agora fazer uma reta grande de quatro eventos que vem por aí e depois pegar um WCOOP sério. O jogo não para!