COMPARTILHAR

Quem joga o Nordeste Poker Series sabe quem é o jogador Madson Moura. É impossível que ele passe batido por onde joga. A voz alta, as brincadeiras em bom som, as comemorações exageradas e as frases prontas tornaram o potiguar de 25 anos em um dos jogadores mais carismáticos da região. Como está sempre de bem com a vida, poucos imaginam a infância difícil que ele viveu.

“A minha vida foi muito complicada. Eu fiz de tudo para não querer nada errado, sempre fui um cara trabalhador. Aos 8 anos de idade, eu saí da minha casa para morar em um sítio, para cuidar de animais. Eu não tive a chance de estudar. Ou estudava ou trabalhava para ajudar minha mãe. Não tive oportunidade”, disse Madson.

Agora, passo a escrever o texto na primeira pessoa. No BSOP Natal, ano passado, foi a primeira vez que vi o Madson em ação. Ele estava na mesa final do Super Turbo Knockout ao lado de vários jogadores conhecidos, como Bruno Foster e Rodrigo Zidane, por exemplo. O jeito engraçado dele atraiu um público considerável para acompanhar aquela mesa final. Todos se divertiram muito até ele ser eliminado na 5a colocação.

Neste ano, tive mais contato com o Madson. Fiz a cobertura de quatro etapas do Nordeste Poker Series e ele jogou em todas. Fiquei mais próximo. Nesta última, descobri um fato que me deixou muito surpreendido, simplesmente sem reação. O “Ureia”, como todos o chamam, não sabia ler nem escrever até pouco tempo atrás. E o cara sabe jogar o jogo. Tem bons resultados em torneios. Como dizem, é “pra frente” no cash game.

Madson tem muitos troféus na estante, a maioria deles conquistados em torneios realizados em cidades nordestinas. A última etapa do NPS, em setembro, foi especial. O potiguar foi vice-campeão do High Roller (R$ 16.000) e no último dia do festival ganhou o tradicional 6-Max, um dos torneios mais técnicos da grade (R$ 11.000).

Um outro fator que mostra a força de vontade do Madson é que em muitas etapas das quais participou, ele aparece no local sem ter onde ficar e sem dinheiro para jogar. Ele se vira, faz o que pode. Já passou noite na sala dos dealers, no quarto de amigos e sempre dá um jeito de convencer alguns jogadores para o “cavalarem”.

“Hoje em dia, minha casa é mobiliada por causa do poker”, continua, com os olhos marejados. Ele contou ainda mais:

Primeiro título de Madson no principal circuito da região veio em setembro

O início no poker

“Sou um rapaz simples, venho de uma cidade pequena do Rio Grande do Norte. Sou de Umarizal, mas faz 12 anos que moro em Mossoró e jogo poker há 10 anos. Eu aprendi a jogar poker em Mossoró, através de amigos. Eu ajudava em um bar lá e ficava prestando atenção quando a galera jogava. Eu vi que o esporte de poker, se o cara prestasse atenção e se dedicasse, ia longe. Eu não sabia nem ler e nem escrever e eu me dediquei a ler e escrever através do poker, porque se você estuda você consegue ir longe. Tem um cara que eu respeito muito o jogo dele. O Pablo (de Sá). É o cara que aprendi a jogar olhando para as cartas dele. Gosto muito dele”.

Foi através do poker que Madson aprendeu a ler e escrever

“Eu fiz um coach com o Bruno Foster e ele me incentivou a me dedicar mais no esporte. Fui para o BSOP de São Paulo e comprei três livros. Tenho que agradecer muito mesmo a minha mulher. Eu não sabia ler, mas ela lia pra mim, apesar dela não gostar do jogo. Tinha uma época que eu briguei com ela e botei na minha cabeça que precisava aprender a ler. Eu estava tendo bons resultados e queria estudar mais. Comecei a soletrar, soletrar, e hoje, graças a Deus, eu sei ler e escrever. O poker abriu a minha mente”

Ajudas fundamentais

“Como eu não sabia ler, eu pedi muita ajuda para dealers também. Um cara que me ajudou muito foi o Ytarõ (Segabinazzi, diretor de torneios do NPS). Ele me ensinou muito poker e me ajudou bastante. Eu preciso agradecer também ao meu patrão Fabinho Porcino. Sou um cara humilde, não tinha condição e ele confiou na minha capacidade de chegar nesses torneios. Já fui pra Fortaleza, Balneário, São Paulo. Ele que bancou tudo e os resultados estão vindo. Também tem o “Seu Agostinho” e o Neném Brito”.

O motivo de ser “figura” nas mesas

“Eu sempre gostei de procurar amizades e alegria. Isso é uma coisa muito boa pra gente. Tristeza não presta. Se tem um amigo por perto, eu faço de tudo para todos estarem sorrindo”.

Que o mundo do poker ainda tenha muitos Madsons para contar histórias como essa!