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Maria Konnikova - EPT Barcelona
Maria Konnikova - EPT Barcelona

Uma das melhores histórias do poker nos últimos tempos é a de Maria Konnikova, atualmente embaixadora do PokerStars. A russa criada nos Estados Unidos é autora de dois bestsellers na área da psicologia, e decidiu se aventurar no poker, tendo como coach ninguém menos do que Erik Seidel.

A mistura de uma mente brilhante, com experiência na análise de pessoas, e um grande coach trouxeram um sucesso mais rápido do que o esperado. Mesmo começando em limites baixos e subindo os stakes lentamente, Konnikova já acumula US$ 243 mil em premiações ao vivo, segundo o HendonMob.

A maior forra veio com a vitória no PCA National, nas Bahamas, que rendeu US$ 84.600, além de um Platinum Pass, garantindo Konnikova no PokerStars Players Championship. Agora embaixadora do site, ela quer que sua história sirva como exemplo, principalmente para outras mulheres.

Maria Konnikova - WSOP 2018
Maria Konnikova – WSOP 2018

Em entrevista a Victor Marques durante o PokerStars European Poker Tour Barcelona, Konnikova falou sobre sua trajetória no poker, a importância de Erik Seidel, e muito mais.

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Por que você escolheu o poker, especificamente?
Eu escolhi o poker porque eu estava procurando algo que fosse uma boa metáfora para a vida, uma boa maneira de olhar para as decisões da vida. Poker é um jogo que é diferente de xadrez, de outros jogos de cartas, porque é um jogo de informações incompletas. No xadrez, sempre existe uma resposta correta, no Go, que tem uma estratégia muito complexa, sempre existe uma jogada correta, porque as informações estão todas ali, no tabuleiro.

Mas a vida não é assim. Na vida, você não sabe o que eu sei, eu não sei o que você sabe, podemos ter informações privilegiadas, mas você nunca vê todas as cartas, sempre há algo pessoal, então a vida é um jogo de informações incompletas. Então foi por isso que eu escolhi o poker, porque é uma ótima analogia para o que é a vida.

Especialmente no Hold’em, quando você tem duas cartas que só você sabe, e as cartas comunitárias, acho que é um bom equilíbrio entre informações pessoais e públicas. Se você pega algo como o Stud, ou outras formas de poker, elas podem variar muito em um sentido ou outro, e acho que é uma das razões que o Hold’em é tão popular e porque eu escolhi que era o caminho a seguir, porque o equilíbrio é muito bom.

Você joga xadrez ou outros esportes da mente?
Não, eu sei como jogar xadrez, mas nunca joguei. Mesmo sendo russa (risos), eu não gosto muito. Eu não sei jogar gamão, mesmo meu coach [Erik Seidel] tendo sido campeão de gamão, gosto só do poker mesmo.

Quando você chegou em um torneio de poker pela primeira vez, que tipo de pessoas encontrou?
Eu percebi que as pessoas mudam muito, dependendo do nível em que você joga. Quanto mais alto, melhores são as pessoas, mais profissionais. No primeiro torneio ao vivo que eu joguei, acho que foi um torneio de US$ 30, em Las Vegas, foi interessante, como se eu tivesse entrado em um cenário de um filme antigo. Logo no primeiro torneio, tentaram dar um angleshoot em mim, esse tipo de coisa. Eu nem conhecia o termo angleshoot, não sabia o que estava acontecendo. Conforme eu aumentei os limites, ficou melhor.

Quando você decidiu subir os limites?
Erik Seidel quis garantir que eu crescesse meu bankroll de forma orgânica, para que eu pudesse sempre jogar com um dinheiro que eu poderia perder. A atitude dele foi: “Enquanto você não começar a ganhar nesses torneios de US$ 30, não pode jogar os mais caros”.

Depois que eu ganhei o meu primeiro torneio, que foi um de US$ 65 no Planet Hollywood, acho que ganhei US$ 960 ou algo assim, foi muito empolgante. Então peguei esse dinheiro e comecei a jogar os torneios de US$ 100 no Aria, depois eu comecei a fazer mesa final nos torneios do Aria e parti para o próximo nível. Então foi um processo lento e orgânico.

Maria Konnikova - PCA
Maria Konnikova – PCA

Você escreveu dois livros e decidiu entrar no cenário do poker. No seu ambiente de psicologia, entre os colegas e tudo mais, o que dizem sobre o poker?
São reações mistas (risos). Muitas pessoas acharam bem legal e me apoiaram bastante, disseram que é uma ótima ideia e estão ansiosos pelo livro, mas outras pessoas não entendem, acham que eu me tornei uma viciada em jogo (risos). Então eu tenho que explicar que não é assim, que não tem nada a ver com jogos de azar.

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Você odeia jogos de azar, certo?
Sim! Eu nunca joguei um jogo de cassino. Nunca joguei Blackjack, Craps, nem sei como jogar, nunca joguei Baccarat, eu tenho zero interesse. Tenho certeza que é divertido, mas não me interessa, porque poker não é um jogo de azar, é uma atividade que exige habilidade, é um desafio, é algo que me motiva. Eu tenho zero interesse nos outros jogos e nem vamos falar sobre as máquinas caça-níqueis, eu não entendo o propósito daquilo. O meu poker room favorito, inclusive, é em Monte Carlo, porque não há outros jogos ali, apenas poker.

Sobre mulheres no poker, você tem algum plano para ajudar mais mulheres a jogarem?
Sim, uma das coisas que me empolgam sobre ser uma embaixadora PokerStars e ser uma figura pública no meio do poker é que eu espero que, por ser mulher e ter uma carreira tão diferente, as mulheres olhem e pensem: “Isso é interessante, se alguém como ela gosta tanto desse jogo, talvez não seja tão horrível. Talvez não seja apenas um monte de caras mal encarados fumando charutos em uma sala escondida”.

Então um dos meus objetivos é tentar mudar a imagem do poker, porque ainda acredito que muitas pessoas têm essa imagem ruim, para que as pessoas, especialmente as mulheres, vejam que não é apenas um jogo fascinante, mas um jogo que pode te fazer ser uma pessoa mais bem sucedida fora do poker. Acho que para mulheres também pode ser algo muito empoderador, eu percebi que o poker me ajuda a acessar áreas internas de poder que eu não sabia que existiam.

Maria Konnikova - Campeã PCA National
Maria Konnikova – Campeã PCA National

O que costumam dizer para você nas mesas?
Depende, na maioria das situações as pessoas são legais, mas já tive algumas experiências ruins, como todas mulheres já tiveram…

Mesmo sendo uma embaixadora?
Na verdade, a maioria das experiências ruins vieram antes de eu ser uma embaixadora. Hoje em dia, acho que ninguém faria algo contra mim em um evento do PokerStars, isso seria suicídio (risos). Mas antes de ser embaixadora, eu já fui chamada de todos os nomes nas mesas de poker, já me xingaram de todas as formas, mas foi antes de eu usar um patch PokerStars. Você tem que estar preparada para isso, mas, geralmente, eu percebi que, conforme você sobe nos limites, as pessoas são boas e profissionais, na maioria.

No entanto, às vezes as pessoas ficam bêbadas, neste ano na WSOP um jogador ficou muito bravo comigo quando eu o eliminei, e ele estava bebendo bastante, ele ficou muito agressivo e o floor teve que escoltá-lo para fora. Acho que ele teria feito aquilo com qualquer um, mas que foi mais fácil fazer comigo porque eu sou uma mulher, então não sou ameaça, não pareço alguém que poderia bater nele (risos).

Isso acontece, mas acho que se você se portar de uma forma correta, existem muitas pessoas boas no mundo do poker, que também vão te defender, o que é bem importante. Os homens precisam ter consciência de que isso acontece e dizer algo para colocar os outros na linha, sou muito grata pelas vezes em que isso aconteceu.

O que pode falar sobre seu coach com Erik Seidel?
Erik é o melhor. Eu tenho muita sorte de ele me aceitar na vida dele, é um mentor que me ajudou muito, não posso nem dizer que levou meu jogo a outro nível, porque ele me levou de zero até onde eu estou. O fato de ele ter sido tão generoso com seu tempo e seus contatos, me introduzindo a alguns dos melhores jogadores do mundo, que me ajudaram também, porque todos amam o Erik, foi tremendo. Ele é como uma figura paterna, para quem sempre posso pedir conselhos sobre a vida, sei que ele vai me proteger, vai cuidar de mim.

Ele tem duas filhas na minha faixa etária e acho que, a esse ponto, ele já me vê como uma de suas filhas, eu sinto que fui adotada pela família Seidel (risos). Essa experiência teria sido impossível sem a sabedoria dele, às vezes sobre como jogar uma mão, mas outras apenas sobre como manter a cabeça no lugar. Quando estou na reta final de um torneio e ele está acompanhando os updates, ele sempre me manda mensagens. Quando eu faço besteira, uma das coisas que ele é muito bom em fazer é dizer “ok, você cometeu um erro, mas siga em frente, limpe sua mente e jogue bem”. Tem sido uma experiência ótima.

E agora, quais são seus próximos planos? O livro e o que mais?
Eu não sei (risos), eu levo a vida um passo de cada vez. No momento, minhas duas prioridades são escrever o melhor livro que eu puder e me tornar a melhor jogadora de poker que eu puder. Vamos ver o que acontece depois disso.

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