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Gabriel Borges
Gabriel Borges "getpuzzled"

Gabriel Borges conquistou um feito impressionante nas últimas semanas. Em menos de um mês, sob o nick “getpuzzled”, o jogador chegou à mesa final do Sunday Million, principal torneio semanal do poker online, duas vezes. Em ambas ocasiões, o brasileiro foi eliminado na quinta colocação.

A primeira FT foi de maior destaque por acontecer em um field de 34.077 entradas, rendendo US$ 71.024. Na premiação conquistada ontem (4), foram “apenas” 9.935 inscritos, para um resultado de US$ 65.100. Ambos são os maiores prêmios da carreira online do jogador, que ultrapassou US$ 630 mil em premiações, segundo o PocketFives.

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No entanto, se engana quem pensa que a trajetória até aqui foi fácil. Gabriel começou no poker em 2010, após a recomendação da um amigo. “Na época eu fazia faculdade e tinha um trabalho normal, um dia peguei um bônus de US$ 50, estava com o notebook na aula e fiz US$ 1.000 jogando Omaha heads-up”, relembrou. “Ledo engano, não tinha noção do que estava fazendo, runnei absurdo, mas vi que dava para ganhar dinheiro.”

“getpuzzled” se aprofundou nos estudos e logo passou a viver do jogo, largando a faculdade de administração. Em 2016, o profissional teve o melhor ano da carreira, faturando bem no online e chegando à mesa final do Main Event da WSOP Brazil, onde, ironicamente, também caiu em quinto. “Parece minha sina”, brincou. Porém, no fim do ano, a saúde mental pesou. “Eu carregava problemas pessoais e afundei na depressão”, explicou. “Cabeça é tudo nesse jogo, nessa época o “€urop€an” [finlandês Samuel Vousden], dono do BitB, pra quem eu jogava na época, foi muito gente boa. Ele veio para o Brasil, demos um rolê no Rio de Janeiro, é um cara gente finíssima, mas não dava.”

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Foram quase dois anos sem jogar poker de forma regular. As sessões ocasionais aconteciam na casa do profissional Luiz Duarte, grande amigo de Gabriel. “Jogava um torneio aqui e outro ali, mas não era a mesma coisa”, contou. “Às vezes ia grindar na casa dele [Luiz Duarte], é meu irmão.”

Luiz Duarte - BSOP Gramado
Luiz Duarte – BSOP Gramado

Buscando mudar a situação e encontrar novos ares, Gabriel entrou na faculdade de educação física. “Tinha ganhado muito peso com a depressão, mais de 20kg”, revelou. “Perdi 25kg, mas agora já ganhei 10kg de volta porque a quarentena está difícil (risos)”. Buscando ter seu próprio dinheiro, ele depositou um bankroll de US$ 300 e voltou para as mesas. O incrível resultado desde então pode ser conferido no gráfico abaixo.

Segundo o jogador, o aspecto mental durante a fase ruim havia prejudicado muito o desempenho. “Antes de eu ter a depressão, meu psicológico estava ruim há algum tempo”, revelou. “Eu me achava um jogador muito bom, mas minha cabeça não funcionava. Muitas vezes agia no impulso, não parava para pensar, parecia que eu não controlava minhas ações. Saúde mental é tudo na vida, e eu voltei muito melhor.”

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A primeira mesa final do Sunday Million trouxe uma estabilidade extra para o jogador. “Não muda minha vida, mas me deixa tranquilo para fazer o que quero”, explicou. “Posso grindar tranquilamente, tenho banca para jogar um pouco mais caro. Eu já quebrei várias vezes quando comecei e hoje sou um nit com bankroll. Logicamente a gente sempre quer ganhar, mas não tem como ser ruim o quinto lugar.”

Os dois resultados em um curto espaço de tempo ainda fizeram Gabriel ter certeza da diferença que a saúde mental faz em seu desempenho. “Isso só mostra que quando você está com a cabeça boa, as coisas acontecem mais fácil, de uma maneira melhor”, refletiu. “Lógico que a primeira mesa final representou mais, mas chegar duas vezes é sensacional, muito legal você ver o resultado do trabalho.”

Ao fim, a pedido do SuperPoker, o jogador mandou um recado para quem sofre com a depressão. “Eu sempre fui um cara muito positivo e, quando era mais novo, achava que isso era frescura”, comentou. “Não é. É doença, o que falo para as pessoas é que procurem ajuda profissional, psicólogo, psiquiatra. Não vá atrás de um coach que fez um curso de três dias e acha que sabe alguma coisa. Você não está sozinho. Eu não sou psicológo, mas às vezes vejo alguém postando alguma coisa e falo ‘se você quiser conversar, eu posso te ouvir’. Ouçam as pessoas, conversem com elas e procurem ajuda de profissionais, isso faz toda a diferença. Não, não é frescura. Cuide de sua mente, é o maior bem que você tem. E façam exercícios físicos, salvou minha vida”.

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