Fabíola Almeida Vieira dos Santos, residente em Rolim de Moura (RO), conversou com o Pocket Poker esta semana e revelou. “Não lembro de ver a representatividade negra feminina no poker no Brasil e nem fora dele”. No século XXI, é natural a convivência com a tecnologia de uma forma que não há nenhum estranhamento pela ausência de negros no poker, e nós falaremos disso. Já que o poker é atualmente difundido online por grande parte da população, ainda é produzido e consumido majoritariamente por indivíduos com marcadores sociais historicamente conhecidos como detentores de poder.
A grinder conta que largou uma carreira no Ministério Público para se dedicar ao poker, mostrando o quanto é importante que desfaçamos o pré-conceito de que a mulher não é competente, capaz, ou não domina a técnica do jogo. A resistência dos homens em ver o cenário feminino crescendo está diminuindo e, assim, minorias surgem desse campo, como as mulheres negras, tema de debate da grinder de Rondônia, que diz. “Depois de abandonar o Ministério Público, contei muito com o apoio do meu marido para este início de carreira. Adequar a rotina de casa com 3 filhos pequenos ao grind ficou um pouco complicado. No Home Office, meus filhos não entendiam que eu estava trabalhando e coração de mãe fala mais alto. Foi então que decidi alugar uma sala e montar meu escritório fora de casa para que eu pudesse me focar 100% ao poker”. A ideia é esta: quebrar padrões, sermos mulheres donas de si em um mundo predominantemente masculino, pois a forma de consumir o conteúdo de poker independe de gênero, raça ou classe social.
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Apesar dos avanços que alcançamos com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e políticas para redução das desigualdades, as relações de gênero, em nossa sociedade atual, ainda estão longe de ser igualitárias, principalmente quando adentramos na interseccionalidade com a questão de raça. “A questão social e econômica está refletida no poker na invisibilidade das mulheres negras. Para você entrar no jogo, você precisa de conhecimento, e você precisa de condições financeiras para investir em bons coachs e escolas, com certeza terá um desenvolvimento mais rápido e acelerado. No cenário brasileiro, onde a maioria é de negros e pobres, é um pouco mais complicado. Claro que existem exceções, e eu sou uma delas. E em razão da dependência econômica, existem mulheres ainda presas em relacionamentos violentos e abusivos. Quando a mulher se vê sozinha com filhos, tendo que depender de pensão para ajudar no sustento deles, dificilmente irá se dedicar a um esporte como o poker”, falou a jogadora.
Apesar de as mulheres serem uma minoria em nosso esporte, no país, ela acredita que o poker ainda pode e deve ser considerado um nicho de mercado e, em especial, para as mulheres negras, pois é mais uma oportunidade de independência, de liberdade financeira. “Seria muito importante trazer mais mulheres para o poker”, confirma Fabíola.
Para ela, a melhor forma, no Brasil, de inclusão de um público negro no poker, seria o acesso ao conhecimento técnico e aos times de poker; “tem espaço para todas”, garante ela.
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Se você tivesse em uma mesa final com Angela Davis, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro, Alice Walker, o que você diria? Não façamos da luta de Fabíola, uma luta solitária e sim, solidária. Nos últimos anos, através da internet, houve a possibilidade de termos mais vozes. Um dos exemplos de ativismo negro pelas redes é o movimento #BlackLivesMatter. É preciso ter coragem para resistir por um sonho, é preciso ter bravura para perseverar no hard work, é preciso ter confiança em si para gerar sucesso, e Fabíola mostra que tem muitas cartas na manga.
Eu conheci Fabíola numa comunidade de poker no Telegram e sempre trocamos experiências sobre a vida, desafios e o poker. Foi numa dessas conversas que fiquei sabendo que ela havia feito o curso com o Thiago Decano e tinha o sonho de jogar para o Samba. No final do BSOP Millions, tive a oportunidade de almoçar ao lado do campeão mundial e curiosamente perguntei sobre Fabíola. “Ela é um dos maiores cases de sucesso que eu tenho, ela é fantástica”, contou o campeão mundial.
Minha felicidade era a dela naquele momento, pois sei que seu reconhecimento, persistência e amor ao poker serão reconhecidos no momento certo. Encerro, para reflexão, com uma citação da filósofa Djamila Ribeiro, que serve para todas nós, mulheres amantes do poker. “Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la”. Confere o vídeo feito pela equipe do Decano sobre a vida da Fabíola. Até semana que vem!