Entre os brasileiros que participam da WSOP estão vários dos maiores profissionais do país, mas também diversos jogadores recreativos, que não tem o poker como sua ocupação principal, mas são apaixonados pelo jogo. Uma das histórias curiosas encontradas pelo SuperPoker em Las Vegas é a de Fernando Ruiz.
Com 39 anos, ele é casado e tem duas filhas, de 5 e 6 anos, além de possuir um currículo acadêmico que impressiona. Fernando se formou em engenheiro pela Escola Politécnica (POLI) da Universidade de São Paulo (USP), fazendo mestrado na Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) e doutorado na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Durante suas pós-graduações, ele se especializou em estratégia e inteligência de negócios, e o interesse nessas áreas o levou a se apaixonar pelo poker há cerca de dois anos.
Começando nos home games com amigos, ele passou a se interessar cada vez mais em estudar o jogo, lendo livros e fazendo coaches, como o do comentarista do SuperPoker, Vini Marques, e o do 4bet Poker Team. Preferindo o live ao online, Fernando passou a ser figura frequente nos maiores clubes de poker de São Paulo, além de participar de etapas do BSOP. O amor cada vez maior pelo jogo fez com que ele resolvesse viajar para Las Vegas, para jogar alguns eventos da WSOP e também torneios em outros cassinos da cidade.
Atualmente, ele é professor de MBAs (Master of Business Administration) de diversos cursos de pós-graduações em negócios em São Paulo, onde ministra disciplinas como Estratégia Empresarial, Inteligência de Negócios, Gestão de Projetos, dentre outras. No break de um de seus torneios no Rio Casino & Hotel, Fernando falou ao SuperPoker sobre a sua trajetória no poker e explicou como a sua formação acadêmica acabou ajudando nos panos. Confira.
Como tem sido sua experiência aqui em Las Vegas?
Tem sido espetacular. Não só de jogar os mais diversos tipos de estruturas, fields e premiações, mas estar convivendo em mesas ou salas ao lado dos grandes nomes mundiais é muito legal. Ver ao vivo Negreanu, Hellmuth, Adrian Mateos, Busquet, Brian Rast, Fedor, Mercier, Seidel, entre outros, é demais. Eu que amo tênis também, é como se eu estivesse jogando em quadras ao lado do Federer ou Nadal em Wimbledon ou Roland Garros.
Como a sua formação acadêmica te auxilia no poker?
Tendo um background de exatas, tendo feito engenharia, eu tenho uma formação matemática forte que ajuda bastante no poker. Ter complementado minha formação em administração ajuda muito, seja na gestão estratégia em relação ao poker, seja na gestão tática de cada jogo, gestão de bankroll, enfim, toda gestão financeira do poker. Em toda a parte de planejamento estratégico e tomada de decisão me ajuda bastante.
E no caminho inverso, como o poker te ajuda na vida?
O fato de você cair muito mais do que cravar ou ficar em ITM ajuda a ser resiliente na vida. A gente toma bastante “porrada” no poker e na vida também, aprendemos a passar melhor por momento difíceis, te ajuda a ser um cara de mais confiança. A própria leitura de pessoas, que é uma competência importante no poker também, assim como a tomada de decisão racional, que é fundamental no poker e na vida.
Quais foram seus maiores resultados no poker?
Tive dois resultados relevantes, na casa dos R$ 10 mil, uma sendo nono em um paralelo do BSOP Millions, e também um quinto lugar num DeepStack Turbo do WSOP Brasil. Além desses, tive vários de quatro dígitos, cravadas em São Paulo, no Zahle, Hijack, Owls, diversos clubes, alguns troféus do H2, torneios em navios, até ITMs aqui em Vegas, mas aquelas duas foram as mais relevantes.
Você sofreu algum preconceito quando começou a jogar?
Preconceito de família não sofri em relação a mim, mas em relação ao jogo, principalmente o pessoal mais antigo, avós, tios, sogros. Eles têm aquela visão do poker de antigamente, em que se apostava tudo, bebedeira, pessoal fumando durante o jogo, ambiente escuro, nada atrelado ao esporte que é hoje. Claramente você percebe que a novela da Globo já vem reforçando essa visão anterior, então tento mostrar para minha família que poker é muito mais do que isso, tem essa questão esportiva, saudável. Lógico que existem exceções, mas a grande maioria hoje em dia tem uma trajetória mais saudável.
Qual a importância do poker na sua vida?
Não sendo profissional, não é a coisa mais importante da minha vida. Tenho família, carreira, minha trajetória acadêmica e profissional, mas o poker tomou um espaço interessante que eram de outros lazeres meus. Coisas que eu fazia como tênis, corrida, natação, sigo fazendo, mas parte desse tempo passei a dedicar ao poker. Também leituras e filmes, por exemplo, passei a ler materiais de poker ao invés de outros, assistir torneios ao invés de filmes, enfim, hoje o poker toma um tempo relevante na minha vida.
Como você busca melhorar no jogo?
Leitura de livros, coaches, estudos de material da internet e muitas horas acompanhando torneios internacionais dos melhores, com hole cartas abertas e comentadas. Todas essas vertentes foram e são muito importantes para minha evolução no poker.
Como você analisa a democracia do poker, em que um amador pode acabar dividindo a mesa com um grande nome?
A democracia do poker é espetacular, o fato de qualquer um poder jogar torneios, seja WSOP ou qualquer torneio no mundo. Tendo a condição de pagar um buy-in e, conhecendo minimamente as regras, pode jogar ao lado de qualquer um do mundo. Por outro lado, isso permite que um cara mais técnico no jogo perca para o baralho, para a estatística, para pessoas que não conhecem quase nada do poker. Isso é cruel de ver acontecer.
O Bodog é o patrocinador oficial da cobertura do SuperPoker na World Series of Poker 2017