Encerrando a série de entrevistas realizadas por Victor Marques no PokerStars European Poker Tour Barcelona, chegou a hora de conhecer mais sobre Fátima Moreira de Melo. A holandesa filha de portugueses tem uma trajetória de vida das mais interessantes, sendo atualmente embaixadora do PokerStars.
Antes de se aventurar nas mesas, Fátima era jogadora profissional de hóquei de grama e representou a seleção holandesa da modalidade. Seu currículo inclui uma medalha de ouro olímpica, conquistada em Pequim, em 2008, uma de prata, em Atenas, e uma de bronze, em Sydney.
Nas mesas, a jogadora de 40 anos soma US$ 535 mil em premiações ao vivo, segundo o HendonMob. A maior forra veio em 2013, quando ela ficou com o vice-campeonato no Main Event do UKIPT (United Kingdom and Ireland Poker Tour), faturando pouco mais de US$ 95 mil.
Em um papo descontraído com Vitão em Barcelona, Fátima falou sobre a carreira no hóquei, a trajetória no poker, revelou ter grande admiração por André Akkari e ainda contou ter um objetivo de vida curioso. Confira!
Aproveite para relembrar também as outras entrevistas realizadas em Barcelona: Jaime Staples, Jeff Gross, Randy “nanonoko” Lew, Maria Konnikova, Neymar.
A última vez que te entrevistei foi há cinco anos, nas Bahamas, o que mudou desde lá?
A minha roupa (risos). Não mudou muito, sempre estou com o mesmo rapaz, sempre jogando poker, mas também faço mais coisas para a televisão, sou repórter, comentarista de esporte em um programa na Holanda. Agora também faço isso, mas de resto… ainda moro no mesmo apartamento, gosto muito de poker, não ganhei o Main Event da WSOP, então nada mudou (risos).
E a sua relação com o poker, seus objetivos dentro do jogo, como estão nesse momento?
O objetivo é sempre melhorar meu jogo, porque eu gosto muito, então não é difícil, porque estou sempre falando com pessoas sobre o poker, jogando, e ainda quero ganhar um torneio grande, que não ganhei. Por isso vim para Barcelona.
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Você vê sua presença no poker como uma porta de entrada para outras mulheres também? Acha que empoderou outras mulheres também?
Eu queria que fosse assim, mas acho que não é. Eu dou workshops para mulheres, que foram de não saber jogar a perceber que é legal e fazer noites de jogo juntas. Isso é uma coisa que eu posso fazer, mas só jogar o poker… acho que inspira mulheres, mas ainda há muitas coisas que se precisa ter: dinheiro, paixão pelo jogo, a segurança de que sabe jogar, isso são coisas que eu só posso passar quando falo com as mulheres, faço workshops para elas. Dessa maneira, eu apresento o poker para as mulheres, muitas na Holanda acham muito legal que eu jogo, porque acho que é um símbolo de emancipação.
Qual é seu lugar favorito para jogar poker?
Aqui em Barcelona mesmo, porque há muitas pessoas querendo jogar. Não é como Vegas, que é muito diferente de Barcelona, aqui é a cidade que a gente mais gosta de jogar, muitas pessoas vêm aqui e tem a cidade, tem praia, comida boa. Eu vivo na Holanda e o voo é de apenas duas horas, então é muito perto, e o clima é bom, tem muitas pessoas para jogar e os torneios são bons. Sempre que o EPT vem para Barcelona, eu venho.
O que você projeta para os próximos anos, dentro do poker e na sua vida?
Eu nunca projeto muito, porque a vida vem como vem. Eu sempre quis ser médica, mas como na Holanda é uma loteria, eu nunca entrei nos estudos de medicina. Como não pude, comecei a estudar Direito e acabei os estudos, mas nunca fui advogada. Fui campeã olímpica de hóquei de campo, depois virei jogadora de poker profissional, e quando eu era pequena, nunca achei que seria isso.
Sempre pensei em ser médica, diplomata, como o meu pai, ou coisas assim, mas nunca jogadora de hóquei e depois de poker. Quando eu olho para o passado, sempre gostei de competição, queria jogar Banco Imobiliário, xadrez, todos os esportes, por isso fiquei feliz que as minhas paixões são as coisas que eu faço na minha vida.
Mas é muito difícil dizer “eu quero fazer isso no futuro”, eu quero é ser feliz. Quando eu não estou jogando ou viajando, eu quero ter um cachorro ou dois, ainda não tenho porque estou viajando e meu namorado também, porque ele é coach de tênis e viaja muito.
Então depois de ser medalha de ouro na Olímpiada, uma esportista reconhecida no seu país, ser jogadora de poker, tudo que você quer é ter um cachorro?
Sim (risos), ou dois, é bom para eles brincarem. Eu gosto muito de cachorros, cada vez que vejo um na rua, eu quero encostar, falar com eles, brincar.
Quem são as pessoas que você mais admira no poker?
Eu admiro muito o Daniel Negreanu, porque ele joga há muitos anos e sempre muito bem, mas o André Akkari é uma pessoa que eu admiro e gosto muito, porque é uma inspiração para as pessoas do Brasil. Quando os Jogos Olímpicos foram no Rio, ele levou a tocha e eu achei muito legal um jogador de poker fazer isso. Eu gosto muito dele como pessoa também, para mim a combinação disso tudo, como pessoal e como jogador, é ótimo.
Já tivemos muitos esportistas no time do PokerStars, como Rafael Nadal, Usain Bolt, Neymar, Ronaldo, Boris Becker, e agora está só você…
Sim, porque eu me transferi de Sport Stars para Team Pro, porque eu sempre joguei bastante, então acho que pensaram “podemos ficar com ela como Team Pro”.
Isso te dá mais responsabilidade? Você se sente com um peso maior por ser a única esportista hoje em um time seleto como o do PokerStars?
Eu não sinto isso, sou uma pessoa que gosto do poker como outros jogadores, só tenho uma trajetória diferente. Eu sinto que tenho uma responsabilidade na Holanda para mostrar o que é o poker.
Tem muito preconceito com o poker na Holanda?
Ainda existe, a geração mais velha ainda não entendeu e não quer entender, porque tem medo, mas a geração mais jovem gosta muito. Mas o governo ainda não passou uma lei específica para o poker, porque é difícil, mas por isso eu sinto uma responsabilidade grande. Muita gente que me conheceu como jogadora de hóquei agora sabe que eu jogo poker e eu posso usar passar isso para o público em geral.
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Quais são suas memórias do tempo do hóquei?
As minhas memórias são com as minhas companheiras no vestiário, cantando depois de ganhar os Jogos Olímpicos, cantar no ônibus quando íamos para os jogos, é uma coisa que é muito diferente no poker. Quando você tem seus companheiros contigo, não tem liberdade para fazer tudo o que quer, mas tem sempre uma ‘família’. No poker, eu tenho amigas como a Leo Margets, que é jogadora de poker também e vive em Barcelona, mas você tem que construir a sua família, mas é diferente. No hóquei é mais fácil, você não precisa pensar no que fazer, tem o treinador lá, não tem toda a responsabilidade, porque é dividida entre todas as pessoas, então minha vida era um pouco mais fácil, mas hoje é um pouco mais interessante, porque eu me conheço melhor. É uma confrontação com quem eu sou.
Do que você não sente saudade no hóquei?
Da autoridade, de dizerem que eu não podia usar chinelos porque era frio, quando estava 30º. Eu tinha quase 30 anos quando me disseram isso e eu percebi que não podia mais fazer aquilo, não queria mais dizer “sim senhor, não senhor”. Eu fiz coisas que não queria fazer, que não achava boas. Isso hoje é liberdade, é algo que eu ganhei, que eu gosto, para o desenvolvimento pessoal é muito bom para mim.
O poker revolucionou a sua vida? Mudou para melhor?
Sim, mudou muito para melhor. Minha perspectiva de mundo mudou e ficou muito mais aberta, encontrei muita gente de todo o mundo, brasileiros, as culturas são muito mais claras para mim agora, e a confrontação comigo mesma tem muito valor também, saber quem você é, do que gosta e não gosta. Hoje a vida é muito livre para mim.
Para finalizar, quando você volta para o Brasil?
Não sei, não fui convidada (risos)
Já está convidada para ir para o BSOP Millions…
Vamos ver, talvez ou no fim do ano ou no próximo ano. E parabéns para você por ter ganhado o Torneio de Imprensa!
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