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Enio Bozzano - Evento 50B - WSOP
Enio Bozzano deu entrevista ao SuperPoker após grande resultado

Enio Bozzano é um apaixonado por adrenalina e encontrou no poker uma atividade para buscar a necessidade de fazer o coração bater mais forte. Ontem (18), o jogador de Blumenau (SC) conquistou mais um grande resultado nas mesas, sendo eliminado na mesa final do Main Event do EPT Online. “O poker é um jogo sensacional, eu tenho o privilégio de poder jogar como hobby, não é minha profissão, mas eu me considero um ‘recreativo enjoado’, como costumo falar”, declarou em entrevista ao SuperPoker após o resultado.

No entanto, o esporte da mente está longe de ser o único hobby do jogador. Nesse ano, por exemplo, Bozzano começou a se aventurar no mundo do rally, conquistando, inclusive, uma segunda colocação no famoso Rally dos Sertões. “Foi uma lavada de alma para mim”, contou. “Eu nunca fui de reclamar da vida, pelo contrário, mas foi uma experiência incrível, vale muito a pena. Para quem gosta de adrenalina, como eu, foi um desafio gigante”. Escalada, mergulho e saltos de paraquedas também são praticados pelo catarinense, que começou no xadrez.

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No poker, Bozzano está muito bem servido de companhias, revelando que André Akkari e Rafael Moraes estão entre seus cinco melhores amigos na vida, que ganharam até tatuagem nas costas do recreativo. “Sou um privilegiado em poder aprender com eles, porque eles conhecem muito”, contou. “O Rafael, tecnicamente, é um dos melhores do mundo. O Akkari fora das mesas é uma pessoa fantástica que eu também tenho um privilégio de conhecer como pouquíssimos conhecem. Ele é padrinho dos meus dois filhos, então a gente é brother de se falar todos os dias, trocar ideia, se ajudar, se corrigir, ele já puxou bastante a minha orelha (risos)”.

Bozzano falou sobre tudo ao SuperPoker

O cooler na reta final do EPT Online, que gerou polêmica nas redes sociais do SuperPoker, também não poderia deixar de ser assunto. Bozzano se contou satisfeito com a jogada, apesar das críticas, fazendo uma análise sobre as possíveis mãos do oponente. Poderia não ter dado 3-bet, mas acho que não mudaria, não. Porque se ele tem AA acho que poderia dar a mesma coisa, se ele tem KK dá na mesma, QQ também… Então tem várias opções para eu estar ganhando essa mão, tem os combos de draw… Eu não jogaria diferente.”

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Confira tudo isso e muito mais na entrevista completa de Bozzano ao SuperPoker.
Já caiu a ficha de que você foi um mesa finalista de Main Event de EPT?

Estou feliz demais, um baita resultado. Quero agradecer demais a energia, estou mega feliz, mais um baita resultado na carreira. Ganhei no Rio ano passado, e estar com essas feras todas na mesa foi uma sensação muito boa. E acho que joguei meu melhor, isso que fico mais feliz. Tive uns bons folds, estou acompanhando aqui a transmissão com delay do PokerStars de meia hora, vendo as mãos.

Acertei várias, teve algumas questionáveis que poderia ter mandado all in, mas preferi um estilo mais tight. Estou bem feliz, chegou a hora no KK, infelizmente não deu, mas faz parte, estou feliz demais com o resultado. Eu já tinha feito uma semifinal do EPT em Praga há uns quatro ou cinco anos, fiquei em 15º ao vivo, é uma sensação muito boa também, agora fazer mesa final foi demais.

Para você, que é recreativo, o que representa ir tão longe em um field de nível tão alto?

Quem me conhece sabe que eu sou viciado em adrenalina. Faço tudo que é esporte radical, escalada em rocha, mergulho, paraquedas, rally, acabei de completar o rally dos sertões, foi uma sensação indescrítivel. Gosto de todos os esportes e o poker consegue suprir essa necessidade do coração bater acelerado, aquele blefe passando, o all in com todas as fichas no meio da mesa.

O poker é um jogo sensacional, eu tenho o privilégio de poder jogar como hobby, não é minha profissão, mas eu me considero um “recreativo enjoado”, como costumo falar. Eu estudo, faço coach, viajo bastante, tenho o privilégio de sempre estar com o Rafa [Moraes] e o Akkari, aprendendo com eles. Sempre ficamos um mês em Vegas, já fiz mesa final de World Series, tenho bastante resultado na minha carreira, e para mim é uma sensação indescrítivel poder estar ali, entre os melhores do mundo, jogadores bons, nível altíssimo, buy-in caro de US$ 5.200. Eu me sinto privilegiado, esse é o resumo, por isso estou tão feliz.

Enio Bozzano já fez bonito também em Las Vegas
Queria saber como foi para você do fim do Dia 3 até a mesa final, vi que você falou com os amigos, como foi segurar a ansiedade ali?

Confesso que demorou para abaixar a adrenalina. Respondi todo mundo, liguei para os amigos, trocamos ideia, depois acabei indo para o meu simulador que gosto de dar uma corridinha. Fui dormir às 2h da manhã e às 7h da manhã já estava na rua, dando minha corrida matinal. Almocei, tirei um cochilo e me preparei 100%, acho que estava muito bem.

Tenho certeza que eu era a pessoa mais feliz na mesa final, continuo sendo, estou mega feliz. Óbvio que o prêmio do primeiro era US$ 1 milhão, mas eu não posso esquecer que ganhei R$ 1 milhão. É um baita prêmio, a gente fica triste na hora que cai, mas esse sentimento passou muito rápido para mim, sou muito grato por esse resultado e muito feliz.

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Como foi ter esse apoio todo da comunidade brasileira torcendo por você, acompanhando?

Isso é legal demais, gente que eu nem conheço acompanhando, mandando energia, acabamos representando uma comunidade. Sabemos como o poker no Brasil está grande, cheio de feras, pessoal de time, profissionais, tanta gente boa jogando e eu ter esse privilégio de estar no meio deles, é uma satisfação enorme.

Quando você fala de representar uma comunidade, acaba sendo uma responsabilidade muito grande. É um esporte que a gente gosta tanto, eu sou apaixonado, tento evoluir, aprender, então representar essa comunidade é uma satisfação enorme. Eu me sinto privilegiado, dei o meu melhor, tenho algumas dúvidas, talvez uma mão que poderia jogar diferente, mas tentei meu melhor, tentei responder todas as mensagens também, agradecer todo mundo, é uma felicidade muito grande.

Você comentou a questão do rally, e podemos ver nas redes sociais você fazendo isso. Queria que você falasse um pouco sobre isso, como é essa emoção do poker comparada com o rally?

Fiquei em segundo [no rally dos sertões], foi minha primeira experiência esse ano, e é indescritível, se for para falar disso vou longe. O Rafa Moraes perguntou e eu falei que é comparado a meu título do Rio. Não ganhei um real, pelo contrário, se gasta, se investe, mas a satisfação é enorme. Você tem o privilégio de conhecer um Brasil totalmente diferente, que chega a cortar o coração, a pobreza lá do Nordeste. Criança sem água, descalça, dando tchau para você que está passando no carro com um sorriso e a gente às vezes fica triste com uma bobeira né? Fica triste com uma dama no flop, um às no river, e as crianças sem comida com uma felicidade que chega a arrepiar. Foi uma lavada de alma para mim. Eu nunca fui de reclamar da vida, pelo contrário, mas foi uma experiência incrível, vale muito a pena. Para quem gosta de adrenalina, como eu, foi um desafio gigante. Eu tinha o objetivo de terminar, o que é muito difícil, e consegui um segundo lugar que para mim foi fantástico, uma baita experiência. Grandes exemplos, experiência de vida, foi muito bom.

Enio Bozzano participou do Rally dos Sertões neste ano
Enio Bozzano participou do Rally dos Sertões neste anozzano
Poker e rally são duas coisas que à primeira vista parecem bem opostas, no poker muito tempo sentado numa cadeira e no rally sempre adrenalina, emoção. Você vê similaridades entre eles?

Eu acho que o poker é relacionado a tudo na vida. A gente que vive disso é um privilegiado, o poker te ajuda em negócios, em esportes, em lidar melhor com a família, amigos, é tudo questão de análise. Você tem que analisar se vai jogar uma mão, o risco que você corre, quanto vai investir no pote, quanto vai blefar para ganhar um pote, então acho que o poker é muito completo. Eu sou apaixonado por esse jogo e defendo essa tese sempre que converso com os amigos, acho que o poker deveria ser matéria em todos os lugares, porque te ajuda a pensar, nós pensamos diferente.

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Não que a gente seja melhor que alguém, mas abre caminhos para enxergar a vida de uma maneira diferente. Se você sabe lidar bem com essa questão do dinheiro, acho que você passa para outro patamar de vida, de não sofrer com o dinheiro. Óbvio que você pode falar “é fácil porque você ganhou R$ 1 milhão agora”, mas eu jogava torneio de US$ 1 com rebuy, US$ 3 com rebuy e eu lembro até hoje que minha primeira cravada foi a mesma emoção. Eu sempre tive controle de bankroll, era professor de educação física e não podia gastar dinheiro. Só jogava o US$ 3 com rebuy. Até o dia que eu ganhei e levei US$ 5 mil, daí vi um dinheiro que eu não tinha disponível no banco e foi uma mudança de vida. Você dando esses buy-ins e perdendo, acho que você se acostuma a lidar melhor com dinheiro na vida, não sofre.

Tem gente que sofre com dinheiro, pensa “vou comprar um picolé, mas custa R$4”. Mas é seu prazer comprar esse picolé, então você tem que se dar o direito disso, acho uma relação muito importante. Óbvio que precisa ter controle, apoio familiar, isso eu sempre tive, as pessoas que amo me apoiando. Principalmente a minha esposa, hoje aqui foi demais, meus filhos chamando carta, então isso é demais, acho que essa relação é muito importante, do poker com a vida.

Durante o Dia 3, em que momento você sentiu que daria para se classificar? Você achou que já tinha chegado muito longe? Como foram as emoções durante a etapa?

Eu sempre acreditei, sempre fui no “toca e sai”, não inventei muita coisa, fui bem seguro, bem tight. Tiveram momentos que eu estava em 29º de 30, ou 27º de 28, mas aí eu ia ver e percebia que estava com 30 bbs, eu pensava “nossa, essa estrutura é fantástica, o short stack tem 30 bbs”. Então eu nunca me desesperei, sempre fui devagarinho, esperando, fui muito paciente. Fiquei sempre acompanhando as streams que estavam rolando na Twitch, até pra ficar mais tranquilo já que eu estava jogando só uma mesa, mas em nenhum momento me desesperei.

Depois teve um momento de explosão que de repente eu passei pra 5º de 20, começou a runnar tudo certo, aí chegou a mão do T5 no big blind que eu defendi, o T5J que o cara trincou… Eu acho que foi cooler, a única mão que o cara podia ter era JJ. Alguns falaram “ah, podia ter TT, 55”, mas eu tinha o combo de T e 5 que diminui a probabilidade, eu achei que poderia ser um flush draw… Poderia ter jogado diferente, mas eu achei que era a hora, tentei, depois acabei voltando, e depois teve o QQ pro AA… Eu nunca sou de reclamar, porque eu acho que o jogo é isso, às vezes você ganha por baixo, às vezes você ganha por cima…

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Claro que é triste, você tá entre os 6 valendo US$ 1 milhão, você quer cravar o torneio, é difícil chegar nessa condição novamente. Mas eu acredito, logo vai ter mais torneios, vamos estar de novo, lutando… Então, sobre esses altos e baixos, foi isso. E o final quando eu estava short foi maravilhoso, quando fui ver, um jogador eliminou dois, acabou, mesa final. Foi legal, era um momento que o pessoal ia começar a apertar, com certeza, então acabei levando essa sorte no finalzinho com a eliminação de dois jogadores ao mesmo tempo.

Enio Bozzano - Evento 16 - WSOP
“Joinha” é marca registrada de Bozzano nas fotos
Muita gente comentou sobre a mão do T5. Uns disseram que deveriam ter foldado pré-flop, outros disseram que não, mas não deveria ter voltado no flop. Você está satisfeito com aquela mão? Jogaria da mesma forma se acontecesse novamente?

Sim, jogaria de novo, acho que não errei, defender o big blind é super normal. Ele apostou duas vezes o big blind, era T5 naipado, então tem jogabilidade. Poderia não ter dado 3-bet, mas acho que não mudaria, não. Porque se ele tem AA acho que poderia dar a mesma coisa, se ele tem KK dá na mesma, QQ também… Então tem várias opções para eu estar ganhando essa mão, tem os combos de draw… Eu não jogaria diferente.

Nós vimos nas redes sociais dois jogadores se manifestando e que significam muito para você, Rafael Moraes e André Akkari, você tem até uma tatuagem com os dois relembrando o título. Você falou com eles ontem quando acabou o dia. O que esses dois representam para você, tanto no poker, quanto na vida?

Eu posso dizer que os dois estão entre os meus cinco melhores amigos. São dois ídolos que eu tenho, duas pessoas fantásticas que eu aprendo muito com eles. A gente vive sempre um mês juntos em Las Vegas, esse ano não deu por causa da pandemia mas a gente já estava até com a casa reservada, fica para o ano que vem. Eu sou um privilegiado em poder aprender com eles, porque eles conhecem muito.

O Rafael, tecnicamente, é um dos melhores do mundo. O Akkari fora das mesas é uma pessoa fantástica que eu também tenho um privilégio de conhecer como pouquíssimos conhecem, ele é padrinho dos meus dois filhos, então a gente é brother de se falar todos os dias, trocar ideia, se ajudar, se corrigir, ele já puxou bastante a minha orelha… Eu considero que eu tenho evoluído bastante como pessoa por causa dos meus amigos. Como eu sempre falo, eu acho que a gente é a média dos cinco melhores amigos, então eu tenho o privilégio de ter esses dois como grandes amigos, mentores, companheiros de trocar ideia, ajudar, dar pitaco, puxar orelha, falar quando está exagerando… É aquele amigo que a gente pode contar em qualquer momento, ele pode contar comigo e eu sei que eu posso contar com ele.

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E o Rafa é a mesma coisa, como ele falou na Twitch, desde a viagem de Macau a gente já tem uma amizade. Já se conhecia faz bastante tempo, há 4 anos a gente foi jogar um torneio do PokerStars em Macau e ali brilhou essa amizade, a gente virou muito amigo, eu adoro ele, ele é uma pessoa de um coração muito bom, está arrebentando na Twitch, quem acompanhou a stream dele viu, é um cara engraçado, feliz, de bem com a vida, e eu amo esses dois. Não é à toa que eles estão na minha tatuagem nas costas para simbolizar a comemoração do título no Rio, mas eu amo e sou muito grato a amizade desses dois.

Enio Bozzano - Evento 68 - WSOP
Enio Bozzano em ação em Las Vegas
Para finalizar, para quem você gostaria de dedicar essa conquista? Por mais que não tenha sido um título, é uma marca bem importante.

Gostaria de dedicar a todas as pessoas que torcem para mim, que querem o meu bem. Eu dedico principalmente à minha esposa, minha grande incentivadora, ela sabe o quanto ela me incentiva, apoia as minhas loucuras, as minhas aventuras… Então eu tenho uma pessoa do meu lado que, na minha opinião, é a melhor mãe do mundo, a melhor esposa, eu tenho que agradecer de coração porque ela me permite fazer todas essas loucuras na minha vida. Quando eu digo loucura, sempre tem um pouquinho de cabeça, um pouco de consciência, mas ela sempre me apoia, me incentiva, ela cuida dos meus filhos, educa da melhor maneira possível, é uma pessoa que eu admiro demais, ela sabe disso… E à toda a minha família.

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Minha mãe, que ficou torcendo ontem, foi até engraçado, publiquei no Instagram ela chamando carta, ela não sabia o que tinha que chamar, eu falei “mãe, só chama pras fichas virem pra mim, pega o meu bonequinho e puxa as fichas” (risos). Ficou toda feliz, vibrando, mandando energia… E à toda comunidade. O poker brasileiro tem crescido muito, eu acho que a nossa torcida não tem igual no mundo, a gente vê quando o Brasil chega em mesa final ao vivo o barulho que é, a bagunça que é… Então agradecer a todos vocês que quiseram o melhor resultado para mim, que torceram, que vibraram, que chamaram as cartas, à toda minha família, todos os meus amigos. Muito obrigado, de coração.

Confira o episódio do Pokercast Express by PokerStars: